domingo, 23 de novembro de 2008

o livro "22 Olhares Sobre 12 Palavras" está aí

e eu com alguma timidez lá estou entre tanta gente boa.
Queria ter colocado este post no dia 22, e assim festejar, à distância, mas partilhando também.
Acontece que dos mares passei aos..."ares".
Não, infelizmente não voo com asas minhas, mas com as dos aviões e seus potentes motores.
A empresa, manda e eu obedeço. Andarilha dos ares. Quando os dias terminam a exaustão é tanta, tanto ainda o trabalho a preparar para apresentações no dia seguinte que (quase) só uso o computador para trabalho.
Por esta razão o meu agradecimento ao Eremit@ por, ao criar o Jogo, me fazer "obrigar-me", pelo menos a isto: criar espaço, cada mês, para dar azo ao gosto pela escrita, pois de outra forma morria estupida. Só trabalho, trabalho e exaustivas reuniões e apresentações... aeroportos, e aviões.
Que das cidades por onde passo pouco vejo. Tal a pressão sobre nós.

O meu obrigada à organização do evento no Porto a quem pedi a guarda dos meus livros. Depois aviso-te TMara. Obrigada pelo esforço e carinho com que sempre me atendes.

E, para festejar convosco aqui deixo dois textos que não conheceis:
Um que fiz para o 6º Jogo das 12 Palavras e não enviei:
mais coisasque aprendi

aprendi a COMUNGAR com a natureza, a viajar no AZUL do CÉU, a vogar num raio de SOL, a nascer cada MANHÃ como se fosse a primeira vez…
aprendi a natureza e o MODO AVASSALADOR da FUSÃO IMENSA, sem VULNERABILIDADE , SOBRESSALTO ou OBSTRUÇÃO com o todo de que somos minúscula partícula porque descobri um MÉTODO para AFASTAR todos os medos.

sentei-me ao LUAR à CONVERSA com a MORTE, EXPONENTE de todos os nossos humanos medos e aprendi que esta VIDA é uma parcela da nossa VIAGEM, e que muito TÈNUE é a LINHA divisória que as separa sendo o DISTANCIAMENTO entre ambas uma construção nossa para afastar o medo.

voltei a ser CRIANÇA, sabedor agora de que o CORPO é mera roupagem que se veste e despe quando necessário, que todos EMERGIMOS do LODO primevo do planeta e que a ÁGUA do MAR foi o nosso primeiro ventre materno e nela residem e sempre encontramos nossas mais antigas RAÍZES…

que vivemos por direito, não necessitando qualquer LICENÇA, pois somos ou devemos aprender a ser FAROL contra as SOMBRAS e as trevas. que todos somos CONSELHEIROS de nós mesmos, breves SILHUETAS nesta bela e densa TAPEÇARIA bela PENA dançando ao vento, ou suave gota de ORVALHO refrescando as FLORES para, cumprida sua missão, se evolar em VAPOR recomeçando o ciclo.

que degrau a DEGRAU fazemos nossa ascensão até ao ENVOLVENTE todo divino de que somos parte e dele nos deixamos INUNDAR pois, VERTICAIS e VARIÁVEIS NEFELIBATAS essa é nossa ambição suprema. o objectivo de cada vida e todo o MOVIMENTO é em sua função.

tudo isto aprendi, e mais…que partilhei com o mundo.
inesperada TEMPESTADE abateu-se sobre mim.
primeiro conheci o gosto amargo do OSTRACISMO no meu PAÍS. depois a indignidade de os ver VASCULHAR minha vida, do berço até agora… por último um grito ecoou: “LOUCURA _ como quem grita _ heresia)!

agarrado à força, submetido com injecções lançaram-me no INFERNO.
este ofuscante CASULO branco de CAL onde, com drogas, me transformaram em AMORTECIDO e ERODIDO ser. amostra de mim.
os braços dobrados pelo COTOVELO, amarram meu corpo pelas costas e pela primeira vez na vida a vergonha me toma e duas imensas ROSÁCEAS cobrem meu rosto.
vilipendiadNegritoo nesta humilhante CAIXA pareço esquecido CHOCOLATE que um dia descuidada mão pegará…

...e outro, deste último Jogo, o 8º, que também ficou na gaveta/memória do computador:
sempre a esperança
com as MÃOS abertas, sem ALEIVOSIA nem COMISERAÇÃO, espalhei o UNGUENTO no velho e engelhado corpo que num acto de total MISTICISMO há décadas se isolara no longínquo EREMITÉRIO onde o SINCELO desenhava estranhas e belas formas. o SILÊNCIO, PRECIOSIDADE há muito por mim esquecida, alimentou-nos a ambos como PÃO. nele URDI uma reza, seguro de que um milagre iria acontecer e ante meus olhos a INFINITUDE da divina semente da vida se revelaria naquele ser tão frágil.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Texto no 3ª Jogo das 12 Palavras

Este o selo do 3º Jogo das 12 Palavras no Eremitério e nele, inscritas, as 12 palavras de uso obrigatório na composição dos textos. Abaixo o texto que enviei. As 12 palavras surgem a negrito.
AVISO - se alguém quiser participar o jogo está em aberto. passem por lá e enviem e-mail ao Eremita.

Luz

Na luz da manhã a criança vê a luminosa silhueta da mãe, tal suave pluma, leve pena, dobrar-se sobre os canteiros, afastar e colher ervas daninhas que abafam as cintilantes flores que sob as gotas do matinal orvalho semelhando viva, colorida e mágica tapeçaria animada por pirilampos.Na sua inocência e pureza a criança só capta o amor que sente irradiar, vibrando forte no ar, entre ambos, bem como entre a mãe e aquele pequeno universo de cores e odores.Desconhece ainda a vulnerabilidade da vida humana pelo que não reconhece a vulnerabilidade da mãe, de onde, pouco depois, a vida se esvaziou.
Hoje, homem feito, o Juiz Conselheiro, regressa ao temp(l)o do jardim, ao temp(l)o da pureza e do amor incondicional que lhe foi ar, pão, leite, água…Tudo.
Busca força, reúne energias para, com sentido de justiça, lidar com a sistemática obstrução em que as meias verdades têm enredado o processo e as mentiras o têm inquinado…O processo sobre aquela violenta e feroz morte de que o homicida se ri e vangloria, transformado o monstro numa exponente figura dos mídia, dando entrevistas em tudo o que é jornal e revistas, aparecendo a toda a hora nos vários canais de televisão enquanto a vítima, retalhada, caiu no esquecimento das gentes, no circo em que a vida se transformou.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

a dor da adaptação ao vosso mundo

Humanos, a adaptação ao vosso mundo, que é agora o meu, tem sido muito dolorosa. No mundo marinho onde nasci e vivo/vivi (há) muitas vidas - comparativamente com as vossas, com o tempo médio de vida de um humano – não existe mentira entre nós, nem traição, intriga, hipocrisia, competição desenfreada em que "jogam sujo" ( a expressão é vossa) para chegarem onde querem. Ou sonham…
Tudo isto tem tornado este tempo de minha vida, enquanto humana, difícil.
Dolorosa como não julgava possível.

Os conceitos de mentira, hipocrisia e toda a panóplia que vem agregada, eram-me estranhos e se racionalmente hoje percebo a sua existência continuo a não perceber a sua necessidade.
Antes vejo como tais práticas tornam miseráveis e tristes vossas vidas, sendo vocês os agentes de todo esse mal que auto-infligem julgando-se espertos, mais inteligentes ou poderosos – sim porque no fundo tudo gira em torno de uma parcela de algo que vocês chamam PODER!
Aquilo que denominam solidariedade, no meu mundo marinho não necessita nome.
Faz parte da nossa relação, de nossas vidas.
Quase automática porque não podemos sequer imaginar que alguém sofra ou passe necessidades.

É uma responsabilidade colectiva e, ao longo dos séculos, não há memória de um qualquer rebelde agir de modo contrário.

A mentira não faz parte de nossa vidas. Claro que discordamos mas "discutimos=debatemos" racionalmente dado sermos seres racionais. Como de vós se diz...
E com tudo isto a dor amarfanhava-me e não tinha disponibilidade, melhor, capacidade, para mais interacção com humanos, mesmo que virtualmente, pois acabava o dia muito ferida e tudo o que ansiava era distanciar-me.
Curar as feridas interiores e... tentar entender-vos.

Tenho lido muito sobre as vossas psicologia e sociologia. Também da vossa história.
E, com tristeza, encontro estes vícios relatados desde o início dos vossos tempos .

Num dos vossos livros sagrados, a Bíblia, encontrei uma personagem cujo modo de ser, estar e viver é semelhante ao nosso.

A figura do vosso Jesus que vejo em cruzes, não só nas igrejas como em muitas ruas. E claro, foi crucificado por todos vós. E há muitas formas de "crucificar" sem cruz nem pregos…

Já delas falei acima e são todas as vossas práticas de enganos.

terça-feira, 29 de abril de 2008

2ºJogo das 12 Palavras - minha participação


SEREIA


Ténue a linha que me prende a esta humana vida.
Coisas boas, há-as.
O sol sua límpida e quente a sua luz, as flores, na variedade de cores e odores que no meu profundo reino marinho não é tão rico, tão heterogéneo...
Dos alimentos fascina-me o degustar do chocolate que desconhecia.
Quando encetei, degrau a degrau esta viagem, do meu mundo marinho para o terrestre, sem licença de meu pai, uma sombra pairava-me na alma, mas nunca imaginei a dimensão das envolventes e esmagadoras sombras que amarfanham as relações humanas destruindo-as, fechando-lhes os cérebros, como se encerrados em herméticas caixas sem visibilidade nem horizontes.

O Eremita lançou um jogo aberto a quem quiser participar.

É o Jogo das 12 Palavras 4 participantes,indicados pelo Eremita, por ordem alfabética, escolhem 3 palavras cada,o que perfaz as 12. depois cada participante tem que escrever um texto - prosa ou poesia - em que as integra e enviar o seu texto, nas datas marcadas, para publicação.

Garanto-vos que vale a pena passar pelo EREMITÉRIO.
Há textos óptimos e surpreendentes.

Já lá estão as palavras para o 3º Jogo e confesso que estas não são nada fáceis.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Será castigo dos deuses? Qual o objectivo desta mudança?


Durante séculos, lembrem-se que as sereias são imortais, fui uma sereia.
Linda e feliz, no ventre materno de onde toda a vida na terra emergiu.
O mar, minha casa mãe.
A única que conhecia.


Com as amigas passáva os dias folgando nas águas que a tudo nos proviam, pregando pequenos sustos, brincadeiras, sem malícia nem consequência aos navegadores e, mais tarde aos pescadores.

Aparecíamos tão depressa, quase sempre em noites de luar, que, estremunhados, acreditavam sonhar e não sermos reais.


Nas profundezas recolhíamos pedras, conchas e algas de belas cores com que nos enfeitávamos, escovávamos os cabelos e entrançávamo-los com as peças que tecíamos.

Com os novos navios e submarinos - que tememos porque as hélices nos sugam - perdemos o hábito de nos mostrarmos aos humanos. Pedeu a graça.

Daí a lenda da nossa não existência se ter reforçado e os "modernos" pensarem que os "antigos" efabulavam, nas noites de temporais ou nos seus sonos, em função dos seus medos.


Divertimo-nos entontecendo, inebriando, cegando e paralisando Ulisses e seus marinheiros, mas este acabou por ser mais esperto do que nós.

Está certo que esta "brincadeira" nos foi ordenada pelos deuses e não partiu de nós.
Mas dos jogos dos deuses nada entendemos.
Somos como crianças.
Sem maldade nem intenções escusas.
De poder ou outras. O p.ensmento dos deuses já é bem mais complexo e cheio de artimanhas

Um dia deixei de ver os azuis e os verdes das águas, deixei de ver as estrelas cintilando na abóbada celeste. Deixei de ver o que quer que fosse.

Só uma escuridão me envolvia e não sentia meu corpo.


Por natureza não somos atreitas à angústia ou depressão, e como seres imortais não medimos o tempo.
Deixei a vida correr no escuro que me rodeava, pulsando ao bater de um mui pequeno coração pois era diferente daquele que, ao longo dos séculos me habituara.

Um dia comecei a escavar, coisa estranha para sereia, e saí de dentro desta casca de árvore num corpo informe e feio que me fez lembrar alguns animais que por vezes via nos rochedos, mas só distantes semelhanças.
Não iguais e mais feia.

Senti fome e um cheiro me atraiu.
Deselegantemente lá fui caminhando, arrastando-me.
Não no mar, mas na terra, respirando sempre e só, ar.


Enfiei o frágil, débil e feio corpo que agora habito, nesta peça, e sorvi uma bebida doce e ao mesmo tempo amarga que ali estava e cujo cheiro me atraíra.

No branco da peça vidrada vi o meu agora abominável reflexo.
Estremeci.
De medo pela diferença, pelo isolamento de tudo e todos os que conhecia.
Do descoinhecido.
Um mundo que mal conheço e pior porque não sei o que sou agora e, mais, porque sou assim?


Castigo dos deuses ou preversa brincadeira?
Nas mãos deles somos meros joguetes de seu tédio e caprichos.

Vi humanos ao meu redor e se antes nunca os temera senti um arrepio correr por dentro de mim, porque por fora parece que tenho uma dura carapaça.

Mas sou tão pequena que até uma criança com um dedito de sua mão pode esmagar-me.

Como por natureza nem sabemos o que é a morte mas conheço-a, pois dela salvei muitos humanos em naufrágios.
A outros já não pude acudir e vi a morte feia de seus corpos esvaziados cuja carne se deteriorava e fedia servindo de alimento a peixes e vermes.
Mas nunca vi a morte de nenhuma sereia porque para nós não existe morte e vivemos pelos tempos fora enquanto na Terra houver Oceanos.


Ouvi uma infantil e humana voz dizer: "pai, olha uma barata!",enquanto com seu pequeno dedo , enorme e assustador agora, me indicava ao progenitor.
Fiquei então a saber que me chamava Barata.
Daí o nome que aqui vos apresento.
Mas foi tal o susto que fiquei virada de barriga para o ar a estrebuchar sem conseguir voltar a posição que me permitisse sair velozmente dali para fora.
Como se muito longe, derivado ao medo que sentia, ouvi a voz masculina dizer: "Manuela*, não faças mal ao bichinho!"
O "Bichinho" era eu,.
Entendi então ao que estava reduzida.

Pela primeira vez em séculos sinto medo. Sei o que é o medo.
Mas como não faz parte da nossa natureza decidi viver por aqui o melhor que puder e souber aguardando o desvendar deste mistério - porquê, eu sereia, de meu nome Inja, sou agora uma barata tonta esperneando sobre uma mesa, receando um pequeno e infantil dedo humano?

E assim decidi embarcar nesta aventura na esperança de perceber o objectivo desta drástica mudança e aproveitar para melhor vos conhecer a vós, humanas criaturas e ao animal que agora sou.


P.S - E do nome da menina e do do animal criei o meu: Manuela Barata.
Tonta porque creio que levei horas para deixar de espernaear de pernas para o ar....
Que vos não surpreendeeis por Barata ser e conseguir escrever.
Nós, sereias, somos telepatas e o nosso cérebro tem muitas outras capacidades ainda desconhecidas dos humanos, apesar de vocês também as terem em potencial.
Não são minhas curtas patas que escrevem, mas meu cérebro que dita os pensamentos ao computador.
Se alguém já sofreu uma transmutação, semelhante ou não, diga-me.
Ajude-me a entender o objectivo do que comigo se passa .